Entrevista com Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho - na época Secretário Municipal do Verde e Meio Ambiente
Entrevista realizada em 01.10.2007
Por duas vezes foi Secretário Municipal de Saúde de São Paulo: no governo de Luiza Erundina, entre 1989 e 1990, e no início da gestão de Marta Suplicy, de 2001 a 2002. Desde 2005, é Secretário do Verde e do Meio Ambiente do município de São Paulo, nas gestões de José Serra e Gilberto Kassab, até 2012.
- Qual sua visão sobre a abordagem do
meio ambiente na mídia, é de forma consciente para alertar a população ou
apenas aterroriza com questões gerais e sem aprofundamento?
É preciso levar em conta que a questão
do meio ambiente e política pública é muito recente, praticamente ela surge em
1972 quando a reunião da ONU reuniu em Estocolmo representantes de vários
países, primeira instituição, aonde surgiu à mensagem da ONU de que os países
organizassem políticas em relação ao meio ambiente. Isso significa que são 30
anos só, comparando com outras políticas públicas como educação, saúde,
esporte, são mais que centenárias, que tem estruturas muito forte, muito bem
consolidada. Assim, é natural que uma política pública tão recente ainda
encontre muita incompreensão, muita insuficiência, na verdade tanto na
universidade, quanto na imprensa e na opinião pública em geral. Mas posso dizer
que de maneira geral no mundo inteiro a preocupação, a organização da sociedade
civil, da imprensa, da universidade e do próprio Estado vem crescendo
rapidamente em torno dessa questão do meio ambiente. Agora nestes últimos anos
com a emergência da questão do aquecimento global, generalizou-se muito a
necessidade de que a economia, da preocupação social se equilibre com a
preocupação ambiental. Aliás isso é uma coisa que considero uma diferença muito
grande em relação ao que aconteceu no século XIX, século XX que tanto o
socialismo, quanto o capitalismo não se preocuparam com o meio ambiente, só se
preocupavam com a questão econômica e social, com diferentes formas de
equilibrar a questão econômica e social, mas sempre o meio ambiente só como
pano de fundo, como um cenário, um local aonde a sociedade ia buscar recursos
aparentemente infinitos. Essa mudança de paradigma é muito recente, agora a
idéia é que é necessário equilibrar o econômico, o social e o meio ambiente,
que é o conselho de desenvolvimento sustentável e acho que a mídia tem
acompanhado essa tendência para a sociedade de maneira geral.
- O senhor acha que a mídia esta
noticiando muito sobre o meio ambiente para acobertar outros assuntos que
poderiam ser resolvidos imediatamente?
Não acho que tenha cobertura
excessiva, se contabilizar as paginas dos jornais, o futebol, por exemplo,
ganha de muito mais, ganha disparado, assim de uns 5X1. O jornal e toda a mídia
acompanham muito o desejo de consumo de notícias, de assuntos da própria
sociedade, embora Lenini achasse que com o jornal ele mudava a Rússia inteira,
de maneira geral, o jornal apenas reflete o que a opinião pública quer comprar.
O jornal faz opinião, mas ao mesmo tempo ele expressa a média das opiniões da
sociedade. Então, eu acho que a cobertura seja excessiva, o que eu acho é que
cresceu o desejo da opinião pública em discutir esse assunto. E o jornal
acompanha isso, os jornais ajudam a fazer opinião para o bem e para o mal em
relação a esse assunto. Também não acho que ele venha a esconder nada, pelo
contrario, eu acho que é um assunto, aquecimento global, por exemplo, que é uma
das pautas principais do meio ambiente hoje, existem outras, mas essa na
verdade, o aquecimento global, tem o dom de unir praticamente todas as pautas
do meio ambiente. A questão do ar, da água, do solo, da eco economia, o
aquecimento global tem essa capacidade de unificar a pauta do meio ambiente. E
hoje ela é a questão do meio ambiente mais importante de todo o conjunto dessas
preocupações, eu acho até que junto com a questão da violência, da pobreza, a
crise ambiental da qual o aquecimento global é pauta principal, são 3 grandes
problemas que a humanidade hoje tem, pobreza, violência e crise ambiental.
Assim, eu não acho que seja excessivo você falar da questão da pobreza,
excessivo analisar as causas da violência, excessivo analisar as causas do
aquecimento global ou da crise ambiental, são 3 problemas mais importantes que
o mundo tem. Quanto mais falar melhor.
- Em sua opinião o que
realmente deveria ser divulgado sobre meio ambiente?
A pauta principal na questão do meio
ambiente hoje, embora tenha muitos assuntos específicos, por exemplo, a
necessidade de se preservar a biodiversidade, a questão da escassez do recurso
água, que é um recurso cada vez mais raro, mais precioso, mas a pauta do meio
ambiente mais abrangente, mais importante, de maior impacto social, econômico e
ambiental é a questão do aquecimento global porque ele tem esse potencial que
através de presença humana na terra de afetar pelo menos em curto prazo, porque
a terra pode passar sem a gente, se recuperar, se nós causarmos um desastre de
aquecimento global muito impactante, que leve inclusive a redução da população
humana na terra. A terra vai se recuperar a médio e longo prazo, mas a questão
ambiental, a crise ambiental mais grave mesmo produzida pelo modo de viver do
homem na terra é a questão do aquecimento global, então, essa é a pauta
principal. Agora, o aquecimento global tem esse dom de reunir praticamente
todos os itens da pauta ambiental em torno dele. Se você olhar, por exemplo, a
questão da poluição, com repercussão na saúde humana direto, as mesmas fontes
de gases que causam poluição na repercussão humana nas grandes cidades, são as
mesmas fontes hoje que produzem o aquecimento global. Principalmente o uso do
petróleo, o uso do combustível fóssil. Por outro lado, a questão da
biodiversidade, por exemplo, no caso do Brasil, a principal causa do
aquecimento global é o descontrole do Governo Federal e do Governo Estadual, em
relação, ao uso da Amazônia que é o nosso principal balouarde de riqueza da
biodiversidade, a forma como a gente não consegue defender a Amazônia que esta
sob nossa responsabilidade é a principal causa do aquecimento global disparado
do Brasil. Tanto a questão da poluição nas cidades, na repercussão da saúde
humana tem ligação com suas possíveis fontes semelhantes com o aquecimento
global. Tanto a questão da biodiversidade, a Amazônia, na mata tem a ver com a
questão do aquecimento global. Essa é a pauta principal hoje, que deve
organizar, vamos dizer assim, a agenda do meio ambiente no mundo inteiro. Tanto
nos países mais pobres, como nos países mais ricos. Não existe ninguém que
esteja fora da responsabilidade de enfrentar essa questão do aquecimento
global, existe até uma tese em que infelizmente o Brasil é um dos líderes do
mundo, é que quem tem que cuidar disso são os países de primeiro mundo, porque
afinal foram eles que há 200 anos atrás começaram esse ciclo de aquecimento
global com a Revolução Industrial, então Inglaterra, Japão, Estados Unidos,
Alemanha, Holanda, etc, é que tem que pagar o preço, isso é verdade, por um
lado, realmente começou com a Revolução Industrial esse ciclo de aquecimento
global, mas hoje, no dia em que vivemos os chamados países que estão fora do
Mercosul e Protocolo de Kyoto se dividem basicamente em dois grandes grupos: o
primeiro grupo países como a China, a Índia, o Brasil, o México e a África do
Sul que já são grandes emissores hoje, e países como Moçambique, Honduras,
Guatemala, Arizona, Madagascar e outros países muito pobres, paupérrimos que
não podem se comparar de forma alguma a estes gigantes já do terceiro mundo em
termos de emissões, então, não é justo que você trate o Brasil igual você trata
Moçambique, você trate a China igual trata Honduras, você trate a Índia igual
você trata Guiné Bissau e sim a responsabilidade diferenciada deve sim existir
mais responsabilidade e peso do atributo aquecimento global, por parte da
Inglaterra, Estados Unidos e Japão, mas o Brasil, a Índia e a China não podem
se esconder de baixo da saia de Moçambique, Honduras e Guatemala, então têm que
haver uma responsabilidade diferenciada para esses países. E eles têm que
assumir metas, tarefas hoje, o Brasil hoje é o quarto ou quinto grande emissor,
ele não era grande emissor há 200 anos atrás, mas hoje é, e o planeta daqui a
100 anos vai ser muito do que se fizer hoje, assim o Brasil, a Índia, a China,
o México, a África do Sul tem que assumir metas, tarefas obrigatórias de
redução de gases de efeito estufa, diferentemente de Moçambique, Honduras, etc,
que tem que ser cobradas responsabilidades muito mais compatíveis e suaves, mas
também tem que ter responsabilidade, ninguém esta fora de assumir essa
responsabilidade, trazendo isso para dentro do Brasil, por exemplo, eu sempre
digo que, tanto o doutor Antônio Hermínio de Moraes, que é o homem mais rico do
Brasil, dizem, como a dona Maria, que é uma dona de casa no Grajaú, o seu João,
que é um funcionário público em Perus, eles tem igualmente responsabilidade, só
que os ombros do doutor Antônio Hermínio de Moraes são mais poderosos, ele pode
agüentar uma casa maior, mas a dona Maria e o seu João também têm que dar a sua
contribuição, todos têm que dar e todos podem dar uma contribuição a essa crise
econômica social e ambiental. Isso é bom porque de certa forma, por um lado,
todo mau tem o seu bom, isso serve de certa forma para criar uma certa unidade
de ação na humanidade como um todo, é bom que a humanidade como um todo tenham
tarefas comum e aí eu volto no que já te falei, hoje eu acho que as tarefas
comuns da humanidade são superação da injustiça, da pobreza e da riqueza
excessiva no extremo, superação da cultura violência pela cultura de paz e
superação da crise ambiental e tudo isso conflui em direção na nova forma de
viver e conviver, na forma mais equilibrada do mundo inteiro. Isso é bom.
- Em relação, ao Jornal o Estado de
S.Paulo, especificamente, como o senhor analisa a atuação deste com o
tema?
Hoje os maiores jornais do Brasil são
Folha, Globo e o Estado de S.Paulo eu venho sendo acompanhado e acompanhando
estes jornais a mais de 30 anos, principalmente quando eu fui deputado federal,
de 1986 para cá, eu praticamente lia estes jornais todos os dias. O que eu
acho, o Estado de S. Paulo é um jornal liberal, conservador de posição muito
clara, mas ele se caracteriza, por isso que eu gosto dele por um jornal que tem
preocupação na pesquisa e nos estudos das informações, ele é mais consistente
do que a Folha e do que o Globo nas suas reportagens, nos seus estudos sobre a
questão internacional, questão ambiental e quanto à questão política é claro,
se você sabe que ele é um jornal liberal conservador, você pode ler e aplicar o
filtro que você sabe que é vetado, nestas duas áreas, por exemplo, política internacional
e a questão ambiental, eu acho que o Estado de S.Paulo se destaca em relação à
Folha e ao Globo pela coerência, pela extensão e pela profundidade das
análises. Sempre você sabendo que ele sendo um jornal liberal conservador, você
tem que levar isso em conta, mas é bom, se você sabe a ideologia do jornal que
esta te falando, você pode discordar por via ideológica, vamos dizer assim, mas
pode tirar as informações que você precisa, assim vale para qualquer jornal, televisão,
livro, se você sabe qual é a ideologia, se é clara a ideologia da pessoa que
lhe fala, lhe escreve, você sempre pode aproveitar muito do que esta
escrevendo, separando de acordo com sua ideologia também, porque você também
tem ideologia, o que você concorda neste aspecto, mas sempre aproveitando as
informações que ele levanta, assim o Estado de S.Paulo e o seu jornalzinho
local, que é o Jornal da Tarde, são jornais que eu aprecio bastante.
- Na sua visão existem
profissionais qualificados para cobrir as notícias sobre meio ambiente?
As crianças hoje estão estudando essa
questão, estão se formando nas escolas de forma muito diferente do que nós nos
formamos em relação a essa questão e os jornalistas, principalmente os mais
jovens já vêm com uma formação melhor, a questão do meio ambiente exige uma
mudança cultural, exige uma mudança de postura de como você vive e convive,
assim antes da questão da formação, antes vem a questão afetiva de como você se
relaciona com o tema e como as crianças estão tendo outra relação afetiva com
essa questão, o jornalista mais jovem já vem com outra forma de ver, isso
facilita muito as análises, o que parte dessa postura, eles querem ajudar, eles
querem mudar e eles acham que precisa ser feito alguma coisa, ao contrário dos
antigos né, os antigos achavam que o meio ambiente estava aí para ser cenário e
fonte de recurso, eles foram formados assim tanto de orientação conservadora, capitalista, ou orientação
marxista, socialista, eles foram formados assim, não há diferença entre eles
neste aspecto, eles tem dificuldade de levar isso em conta, já o jornalista
mais jovem não, eles são formados dessa onda, dessa mudança cultural que foi
embarcada em 1968 que incluiu a questão ambiental, então estes jornalistas mais
novos, eu acho são mais preparados para analisar essa questão do que os
antigos. Isso não quer dizer que não precise estudar mais e não precise mudar
mais sua forma de viver e conviver, afinal de contas eles ainda fazem parte de
uma sociedade muito consumista, muito dependente de uso excessivo de energia,
de meios de recursos naturais, isso também precisa mudar.
Por Angely Biffi
Comentários
Postar um comentário