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Jornalismo Cultural


O marco do jornalismo cultural é o ano de 1711, foi neste ano que dois ensaístas ingleses, Richard Steele (1672-1729) e Joseph Addison (1672-1719), fundaram uma revista diária chamada The Spectator. Mais tarde criaram outras publicações, como The Guardian. Londres ficou ansiosa para descobrir quem eram os autores dessas publicações diferenciadas que estavam aparecendo nas livrarias da cidade. A Spectator, portanto o jornalismo cultural nasceu na cidade e com a cidade.

O jornalismo cultural dedicado à avaliação de idéias, valores e artes inicia-se depois do Renascimento, propaga-se na Itália com o Humanismo e ajuda a dar a luz ao movimento iluminista que marcou o século XVIII.

O jornalismo europeu teve sua era de ouro, pois sua influencia transformou a modernidade, as revoluções políticas, as descobertas cientificas, a educação liberal e o romance realista. Além de Addison e Steele, outros nomes importantes apareceram como Samuel Johnson (1709-1784), que escrevia em The Examiner.

No Brasil, o jornalismo cultural só ganhou força no final do século XIX e com ele nasceu o maior escritor nacional, Machado de Assis (1839-1908), muitos outros escritores brasileiros passaram pelo jornalismo cultural. O grande crítico do período foi José Veríssimo (1857-1916).

No final do século XIX o jornalismo começou a mudar e, com ele, o estilo da crítica cultural. Até a virada para o século XX, o jornalismo era feito de pouco noticiário, tinha muito articulismo político e debates sobre livros e artes. A modernização da sociedade transformou a imprensa, e o jornalismo passou a dar mais importância para as reportagens. O jornalismo cultural descobriu a reportagem e a entrevista, além de uma crítica mais breve e participante.

O papel fundamental no jornalismo cultural continuou sendo das revistas e os tablóides literários semanais ou quinzenais. A revista New Yorker, em que Edmund Wilson (1895-1972) escrevia foi a estrela nos anos 40 e 50. O jornalismo literário, não é invenção da New Yorker, mas foi praticado com excelência e por isso se tornou um forte ícone de referencia.

Outro nome importante para o jornalismo cultural foi o escritor inglês George Orwell (1903-1950), conhecido como romancista de A revolução dos bichos. Orwell é um modelo de escrita para jornalistas modernos, pois uni clareza e incisividade na argumentação.

Nos últimos anos o jornalismo cultural vem se expandindo para os livros.

Em 1928, surgiu uma publicação moderna dentro do jornalismo cultural que não pode ser deixado de citar: a revista O Cruzeiro. A revista também marcou época por lançar o conceito de reportagem investigativa. O Cruzeiro também foi muito importante para o Brasil por falar para todos os tipos de público.

Nos anos 50, o jornal Correio da Manhã criou o caderno cultural dominical, o Quarto Caderno. O caderno trazia críticos de cinema, colunas sobre arte, dramaturgos e cronistas.

Outro experimento jornalístico surgiu em 1969, O Pasquim, que começava como tablóide semanário de humor, política e cultura. Esta publicação alternativa mudou a história de todo o jornalismo brasileiro, pois modernizou a linguagem, a deixou mais coloquial e personalista.

Somente nos anos 80 que os dois principais jornais paulistas consolidaram seus cadernos culturais diários, a Folha de São Paulo com a Ilustrada e O Estado de São Paulo com o Caderno 2.

A Ilustrada ficou famosa por seu gosto pela polêmica e por sua atenção pela cultura jovem internacional. O Caderno 2 teve seu auge com a primeira geração de especialistas que participaram do projeto como Wagner Carelli, Enio Zqueff que falavam com conhecimento de causa sobre diversos assuntos.
A partir do século XX, o jornalismo cultural vive crises freqüentes de identidade. Isso aconteceu com o surgimento dos meios de comunicação de massa, rádio e televisão.

A história do jornalismo cultural é parte integrante dessa história. As revistas culturais se multiplicaram a partir dos anos 20 e as seções culturais da grande imprensa diária ou semanal se tornaram obrigatórias a partir dos anos 50; pode-se dizer, portanto, que acompanharam os momentos-chave de ampliação da tal “indústria cultural”, numa escala que hoje converteu o setor de entretenimento num dos mais ativos e ainda promissores da economia global. E por um motivo obvio: o jornalismo é, ele mesmo, personagem importante dessa “era da reprodutividade técnica”. (PIZA, 2004, p.43 e 44).

O jornalismo, que pratica a ampliação do acesso a produtos culturais, desprovidos de utilidade imediata, precisa observar esse mercado sem preconceitos, ideológicos, sem parcialidade política. A imprensa cultural tem o dever do senso crítico, da avaliação de cada obra cultural e das tendências que o mercado valoriza seus interesses, e o dever de olhar para as induções simbólicas e morais que o cidadão recebe.

O jornalismo cultural não tem conseguido realizar com clareza e eficácia sua função, por vários motivos: um deles tem a ver com os critérios para avaliar uma produção cultural, na arte, a condição moderna é crítica, por isso é preciso recuperar o poder de influência que o jornalismo cultural já teve. Outra perda do jornalismo cultural, além da credibilidade é sua submissão ao cronograma dos eventos.

O preconceito contra uma matéria cultural, se alimenta da falsa noção de que jornalismo cultural se encerra na função de serviço, do roteiro. Uma matéria jornalística, nesta época da multiplicação industrial, é, ela mesma, um produto cultural, para um consumo que às vezes se esgota em si mesmo.

  O jornalismo cultural sofreu, como a sociedade, enormes transformações desde Samuel Johnson até Robert Hughes, ou desde Machado de Assis até Paulo Francis, mas suas funções não mudaram muito. Grandes críticos culturais como eles, assim como os chamados jornalistas literários como Gay Talese, continuam na história porque souberam lutar contra os dogmas estabelecidos e contra a mediocridade dominante. Ganharam pecha injusta de “elitistas”, de metidos a “juizes” do gosto alheio etc, mas fizeram muito pela formação cultural de muita gente, chegando ao leitor não-academico pela energia e clareza do seu texto. Portanto eram (ou são) seletivos, não elitistas, e combativos, não arbitrários. A prova é a de que conquistaram, a médio ou longo prazo, um público grande e assíduo. É um caminho mais trabalhoso, mas também mais digno. (PIZA, 2004, p. 68).

A reportagem no jornalismo cultural tem pontos de diferenciação. Devido o chamado “hard news”, o noticiário quente, é menor que nos outros cadernos. Suas notícias dizem respeito à agenda de lançamentos e eventos, olham para o que vai acontecer e não para o que já aconteceu ou esta ocorrendo.

No jornalismo cultural brasileiro existem dois autores que são mestres em apresentar opinativamente um tema ao leitor: Sergio Augusto e Ruy Castro. Eles sempre deixam claro seu ponto de vista para o leitor.

Há um outro tipo de reportagem cultural, ainda mais interpretativo, que é difícil de fazer e é escasso na imprensa brasileira. Quando a reportagem trata de tendências, por exemplo, quando o jornalista vai falar sobre um best-seller, quando vai causar polêmica. Ainda tem o caso de quando vai mostrar determinado comportamento cultural, por exemplo, moda das “raves”, pois precisa falar sem preconceito e com senso crítico.   

Dez dicas para escrever ou fazer uma reportagem de jornalismo cultural:

1.                Não “compre” nenhuma versão. Duvide sempre, não tenha medo de perguntar, faça contrastes com outros pontos de vistas;
2.                   Faça uma abertura atraente, mas sem mostrar demais o assunto;
3.                   Mantenha ritmo no texto, amarre as informações;
4.                   Hierarquize as informações, quanto maior a precisão, melhor.
5.                   Evite clichês, chavões, adjetivos gastos, termos pomposos, seja coloquial e fluente;
6.                    Preocupe-se em dar um título atraente;
7.                   Não abuse dos verbos “discendi”, como “diz”, “afirma”, etc. Muitas vezes o autor já fala já está subentendido;
8.                   Traduza sempre que possível o jargão do setor;
9.                   Seja criativo no texto e na edição;
10.                 Dê um fecho ao texto.


Escrita por Angely Biffi 


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